quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Marcio Victor: Salvador está uma merda


Marcio Victor: Salvador está uma merda

Por: Rafael Albuquerque (Twitter: @rafaelteescuta)
Ao final de sua apresentação no programa Se Liga Bocão (Record Bahia) desta terça-feira (11), o cantor Marcio Victor, da banda Psirico, concedeu entrevista exclusiva ao Bocão News. Na oportunidade, o artista esclareceu a polêmica envolvendo sua banda e o bloco As Muquiranas, afirmou que não escuta muito pagode, que não gosta de sertanejo e disparou: Salvador está uma merda. Confira abaixo a entrevista na íntegra:


Bocão News: Fala um pouco sobre como será o verão do Psirico.
Marcio Victor: Acho que esse é o ano que mais tocamos fora do Brasil. Isso por causa desse ritmo que a gente faz, o samba-pop-percussivo. A galera de fora está querendo saber mais sobre isso. O verão para mim vai começar bem, porque em Natal, esse final de semana, o Psirico foi apontado como o melhor grupo do Carnaval e também como a melhor música com o “Dançation”. Para você ter uma idéia, as mais fortes eram “Largadinho” (Claudia Leitte), “Dançando” (Ivete Sangalo) e “Dançation”. Em quarto lugar vinha outra minha que é a “Zuadinha do Amor”. Isso sim é começar com o pé direito. Há alguns anos, desde 2008, a gente vem chegando no verão de tal forma que a banda cresce tanto que nem a gente consegue dar conta.

BN: E sempre emplacando hits...
MV: Isso. Desde “Toda Boa” para cá a gente vem dando sorte.

BN: Mas, como vem a inspiração para composição e escolha das músicas que serão trabalhadas?
MC: A gente se preocupa muito com a composição musical e artística. Em 2013, será mais um ano que estaremos fazendo mistura com DJs e música eletrônica. Há a possibilidade de termos Pit Bull no trio. Já trouxemos Lucenzo e esse ano ele estará de volta para uma nova parceria. A relação é tão verdadeira que o empresário dele já quase fecha shows nossos na Europa. Ou seja, existe a possibilidade de o Psirico se internacionalizar de verdade, virar um produtor de exportação, um produto “made in guetho”. Com isso, a gente fica feliz e comemora muito.

BN: Falando em show, como será esse primeiro ensaio no Bahia Café Hall? Você participou diretamente na escolha dos convidados Ed City e Pablo?
MV: 
A equipe da Penta é quem cuida de tudo. Mas, a gente procura deixar a coisa bem leve. Mandamos o convite para a pessoa e depois a gente liga para dos produtores para marcar a data certinha. A gente manda o convite pra todos e os que podem ir comparecem. Muitas vezes, tem gente que vai para o show e acaba participando, como foi o caso de Caetano (Veloso), que fez isso. Mas, esse ensaio desta quinta (13), vai ser muito bonito, estamos preparando tudo com muito cuidado. Vamos torcer para que todas as quintas nos ensaios do Psirico nós tenhamos um verão digno.

BN: O que vocês estão preparando para o carnaval?
MV:
 Nós vamos fazer um arrastão na sexta de carnaval no circuito da Barra. Esse é meu sonho que eu estou realizando. Eu me preparei muito para essa novidade. No sábado a gente toca no Pra Ficar, no domingo é a vez do bloco Pinel, e segunda nas Muquiranas e em Porto Seguro. Na terça-feira, a gente toca no Piauí, onde temos um grande público. Aliás, eu acho que é a primeira vez que a gente não fecha o carnaval aqui.

BN: Márcio, não tem como não falar da polêmica envolvendo as Muquiranas (leia aqui)O que aconteceu? Você está fora do bloco?
MV: A gente vai fazer agora em 2013 em respeito aos fãs. Mas, eu não admito falta de respeito, sou um cara da paz, tranquilo, e os associados do bloco não merecem que a gente não toque em 2013. Os empresários já estão sentando para conversar. Por mim eu continuo no bloco. Mas, isso vai depender das conversas, para saber se vai renovar ou não para os próximos anos.

BN: Você não considera o Psirico um grupo de pagode...
MV: 
(interrompendo) a galera considera a gente como pagode não tem problema nenhum. Mas, desde 2004 demos outra denominação por causa da abertura que a gente dá para entrada de outros ritmos.

BN: Mas qual a influência de outros ritmos no trabalho do Psirico?
MV:
 Ah, o que se destacou bastante foi Kuduro. Muita gente virava a cara para a gente por causa dessa mistura, mas depois fez tanto sucesso que foi até para a novela. Todos os ritmos que eu acho que vai influenciar meu povo eu trago para o Psirico. Esse lance do Gangnam Style é muito parecido com o samba eletrônico que gravamos no DVD em 2008. Foi lá que começamos essa onda de misturar a batida eletrônica com o samba de roda, samba de raiz. Ano passado, eu fiz um disco chamado Sambatrônico onde a gente aborda bem isso. Eu nunca abri mão dessa mistura, e esse ano, a gente intensifica mais ainda porque vamos ter dois DJs tocando no nosso trio durante o carnaval. Então, misturamos samba de roda, kuduro, música eletrônica, o psy, etc. Pra você ter uma idéia, nós gravamos um baila-mambo, que é um mambo misturado com pagode.

BN: Você não tem vontade de divulgar mais ou outro lado do Marcio Victor através dos seus projetos experimentais?
MV: 
E muito difícil por conta da burocracia. Mas, eu tenho realmente esse projeto de música experimental e a gente fez inclusive shows em Praia do Forte, no Armazém. A gente pensa, sim, em divulgar mais. Mas, será mais autoral, para não ter problemas com relação à burocracia. Pretendemos convidar grandes nomes da MPB para mostrar que nós que fazemos pagodes não estamos longe da boa música, do talento. Com esse projeto, onde eu canto outras coisas, eu lapido mais o meu talento. E acabo conquistando um outro público que muitas vezes não ouve o nosso pagode.

BN: O pagode baiano é muito discriminado. Mas, a gente sabe que tem bandas que apelam muito. Isso acaba manchando a imagem das bandas serias?
MV: 
A gente é muito discriminado. Mas, o apelo não é só no pagode. Se você reparar o sertanejo tem muitas músicas que são difíceis de entender. Não é o pagode responsável pelas coisas ruins. Todos os ritmos estão indo nessa praia de apelar. O que eu particularmente acho é que se trata de perda de tempo e quem faz isso não vai pra lugar nenhum, vai ficar sendo conhecida como banda local. Até porque, lá fora as pessoas têm rejeição a este tipo de música. O Psirico vai atrás da qualidade musical, da pesquisa, do aprendizado.

BN: O que você aproveita do pagode baiano?
MV: 
Do pagode baiano eu escuto e aproveito muito pouco. Eu ouço os mais tradicionais como Gang do Samba. Eu estou ouvindo agora uma banda que tenho gostado muito que é a Pagodão, que meu povo gosta, o pessoal da minha rua gosta. Eu gosto de coisas mais antigas como samba do recôncavo, samba de roda, MPB, Bossa Nova, etc. Eu só não sou muito fã de sertanejo.

BN: Agora a pergunta que não quer calar: você já está dormindo bem? Resolveu o problema com a cama (leia aqui)?
MV: (Risos) Graças ao Bocão News eles (Home Design) foram lá em casa e resolveram o problema da cama. Quando eu tive o problema eu acordei já decidido a colocar no Bocão News porque eu tinha certeza que eles iriam resolver. Teve gente dizendo que eu comprei a cama e já queria trocar com quatro meses de uso. Mas, ela realmente estava com problema.

BN: Agora, em nome dos fãs, eu faço a cobrança pelo novo DVD, que começou a ser gravado no ano passado.
MV: 
A gente teve a idéia de gravar nos ensaios para trazer turistas, mas acabou tendo toda aquela confusão de greve. Mesmo assim, a gente continuou gravando algumas coisas. Era uma produção completa com palco, cenário, luz, gente que vinha de fora, etc. Mas, as músicas que não conseguimos concluir vamos fazer em clipe, que vai ficar um formato bacana. Já começamos a gravar e na próxima semana a gente conclui o trabalho com Chico Kertész, que é apontado como um dos maiores desse ramo. Vai ter o clipe do “Dançation” muito bacana.

BN: Dançation” é a aposta do Psirico para o verão?
MV: 
Na verdade a aposta era “Zuadinha do Amor”, como no outro ano a aposta era “Cole na Corda”, mas o povo quis “Toda Boa”. A gente estava trabalhando “Zuadinha do Amor”, mas do nada as rádios começaram a toca o “Dançation” e o povo abraçou porque é uma música que chama atenção e o clipe dela está sensacional. Mas, não se preocupe que vamos lançar o DVD pela Som Livre ainda neste verão, antes do carnaval.

BN: O “Dançation” foi inspirado no “Rebolation” do Parangolé?
MV: 
Talvez sim. O “Rebolation” é um movimento como o “Dançation”. Se você colocar na internet, o “Dançation” é muito mais acessado que o ritmo “Rebolation”. Depois de 2008, quando eu lancei essa onda de mistura com a música eletrônica foi todo mundo para internet procurar. O Parangolé deu muita sorte e nós também estamos fazendo sucesso com o “Dançation”, mas não tem nada a ver uma coisa com a outra.

BN: Como artista baiano, como você avalia o carnaval de Salvador?
MV: 
Eu sou fã do carnaval, sou muito louco por essa festa. Eu me entrego, me sinto como parte do carnaval.

BN: Daí veio a vontade de fazer o arrastão?
MV: 
Sim, veio daí, dessa vontade de fazer música para o povo. Eu fico muito hipnotizado com tudo isso. Mas, tô sempre ligado na discriminação que rola no carnaval, no apartheid. A falta de oportunidade para os menos favorecidos me deixa muito triste e por isso vou trabalhar sempre para que todos sejam tratados de forma igual pelo menos no carnaval.

BN: O projeto do arrastão é idéia da banda ou foi um pedido da prefeitura?
MV: 
É um sonho meu de infância, uma iniciativa da banda e da Penta, que sempre acreditou em mim. Logo quando eu tive o primeiro contato com ACM Neto (prefeito eleito) foi a única coisa que eu pedi a ele, para eu dar a minha cidade o que lá fora já é realidade. Neto, inteligente do jeito que é, vai estudar a possibilidade de viabilizar isso.

BN: Falando em política, o que você espera para a gestão de ACM Neto?
MV: 
Eu acho que a gente vai crescer, vai ter tudo de melhor. Neto é baiano e tem gás. Não é do guetho, mas, ele quer se misturar com a gente pra defender o que a gente quer. E se Neto tiver fazendo merda eu vou abrir a boca e falar. Mas, pelo que ele me diz, sinto que ele tem competência para ser presidente do país para defender o povo com a verdade. Eu acho que ele vai mudar tudo para melhor. Eu queria que voltassem as barracas de praia, a lavagem de Itapoan, as escolas de percussão que eram uma ferramenta de ressocialização e que infelizmente não existem mais. Essa prefeitura acabou com os terreiros de candomblé, que tinham um papel fundamental para ressocialização. Hoje, as igrejas evangélicas têm esse papel, mas não têm ligação com os governos. Creio que o entendimento cultural e religioso será muito mais respeitado com Neto do que com o governante que está aí.

BN: Você é muito ligado em programas populares e na internet. Diante do noticiário e de suas andanças, como você avalia a capital baiana?
MV: 
Salvador está uma merda, ta bagunçada. Falta educação. Temos que resolver as coisas por parte, e o ideal é começar pela educação. Poxa, é um sofrimento aquele povo nas filas da estação Pirajá e estação Mussurunga, aquilo dói na alma. Alguém tem que fazer alguma coisa urgente por aquele povo. E aí eu me pergunto: o que esses caras estão fazendo com a gente? A gente não tem educação, não tem hospital público. Eu volto a falar que antes de tudo tem que ter educação. É por isso que a África está como está. Se na África tivesse educação, o povo não ia ficar refém daquelas merdas que vem de cima e eles aceitam. O sistema sabe que o povo da gente é burro, cego e vai atrás de conversa bonita em vez de reivindicar.  O lance da cama mesmo eu tive que botar a boca no trombone pra resolver. O povo tem que ser assim. Enquanto o povo fica calado, enquanto a gente tem esse tipo de problema, enquanto eles estão mandando a gente vai... daí para pior, até que Neto chegue.

fonte: Bocão news